EDUCAÇÃO EGÍPCIA
(*) Nelson Valente
Um dos traços marcantes da cultura egípcia foi o seu realismo. Esse aspecto se evidencia quando analisamos o espírito e a organização da educação dos egípcios. Como todos os sistemas pedagógicos orientais, a educação egípcia visou à transmissão às novas gerações de uma tradição revelada, de um tesouro cultural, considerado como de origem divina.
A formação religiosa e espiritual representou um dos objetivos primaciais da educação egípcia.
A sociedade egípcia era dividida em numerosas classes, ainda que sem a fixidez e a impenetrabilidade das castas hindus: sacerdotes, guerreiros, escribas, comerciantes, operários, camponeses. A classe sacerdotal era a mais elevada e tinha a seu cargo a direção intelectual, moral e religiosa da nação, como "detentora que era das tradições, da literatura, da filosofia, das ciências, consideradas como patrimônio sagrado e inalienável, de que só a pessoas reais podiam de certo modo compartilhar". Sucedia à casta sacerdotal, a classe guerreira, embora grande parte fosse constituída de estrangeiros mercenários. Os escribas eram letrados que tinham estudado e sabiam ler, escrever e calcular. Desempenhavam cargos públicos, eram sustentados pelos faraós, recebiam doações de terras e gozavam de certos privilégios à maneira dos mandarins chineses.
A mulher egípcia ocupava uma situação social superior à da mulher chinesa e hindu, embora a poligamia fosse praticada em todas as classes, com exceção da sacerdotal. Era considerada senhora do lar, possuía alguma educação e tinha papel saliente na formação das novas gerações. As crianças eram cercadas de todos os cuidados pela família e envolvidas numa atmosfera de carinho e de amor. Dado o espírito religioso da sociedade egípcia, eram habituadas à prática da piedade e da obediência. Para se tornarem sadias e resistentes de corpo e espírito, eram submetidas a um regime de vida simples e sóbrio.
De todos os países do Antigo Oriente, o Egito foi aquele em que a instrução foi mais disseminada. Foi considerável o número de escolas entre os egípcios e elas denominavam-se "casas de instrução" e eram encontradas nas cidades e no campo. Raras as que tinham prédio próprio, quase todas funcionavam nos templos, uma vez que os sacerdotes eram os únicos que podiam exercer a função de mestre.
O regime de ensino era de internato ou semi-internato, cabendo à família o fornecimento da alimentação aos filhos. A instrução elementar compreendia o ensino da escrita, da leitura, do cálculo, da ginástica e da natação. Havia três gêneros de escrita: a hieroglífica, empregada nas inscrições, constituída de 650 sinais, uns silábicos, outros fonéticos e outros simbólicos; a hierática, resultante da simplificação da hieroglífica, usada na literatura científica; e a demótica, formada por 356 sinais, era a escrita vulgar e a única ensinada nas escolas.
A leitura, a escrita, o culto, o conhecimento dos astros, a música e a higiene ou medicina vulgar eram considerados como os seis dons concedidos a todos os egípcios, motivo pelo qual constituíam a base do ensino elementar. A passagem das escolas elementares para as superiores se fazia através de um exame de habilitação. O aluno bem sucedido tinha o direito de escolher o professor de sua preferência. O ensino superior era ministrado nos colégios sacerdotais muito bem organizados e providos de arquivos e bibliotecas.
A educação egípcia possui aspectos elogiáveis, entre os quais podemos destacar sua preocupação pela formação moral das novas gerações, os processos didáticos intuitivos de que se utilizaram e o interesse que revelaram pelo cultivo da ciência. Mas o sistema educativo dos egípcios é passível de crítica, pelo seu sentido aristocrático, pelo monopólio cultural exercido pelos sacerdotes e pelo abandono que votaram à educação feminina.
A instrução superior egípcia produziu ilustrados e grandes cientistas, em todos os domínios do conhecimento.
(*) é professor universitário
Fonte: https://jornaldedebates.uol.com.br
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